Anúncio

Um dos maiores jornais do mundo, o The New York Times recentemente contou a história de um brasileiro que ficou milionário apostando no que os outros diziam ser uma piada. Apelidada de critopmoeda-meme, o Dogecoin (DOGE) ainda é vista com desconfiança por uma parcela dos investidores no mundo cripto, mas para Glauber Contessoto, foi uma maneira de realizar seu sonho de ficar rico “do dia para a noite”.

Em fevereiro, Contessoto decidiu investir todo o dinheiro que tinha guardado em dogecoins. “Todos os meus amigos disseram que eu estava louco”, lembra. O ceticismo deles é porque viam aquele ativo digital como “uma piada”, “um meme”, destino a “quebrar” em pouco tempo.

Lançada em 2013 por uma dupla de programadores que decidiu tirar onda com a mania de criptomoedas criando seu próprio dinheiro virtual usando como imagem-símbolo um meme sobre Doge, um cachorrinho da raça shiba inu que fala.

Anúncio

Investimentos em criptomoedas obscuras, historicamente, equivale a jogá-lo numa fogueira. Contudo, Contessoto, 33, funcionário de uma empresa de mídia hip-hop em Los Angeles, não é um investidor comum, acostumado a comprar e segurar. Ele é um dos muitos amadores em busca de emoções que se jogaram de cabeça nos mercados nos últimos meses, usando aplicativos de corretagem como Robinhood para buscar lucros enormes em operações financeiras arriscadas.

O brasileiro conta que após ler uma notícia no Reddit sobre o potencial da dogecoin, decidiu usar seus cartões de crédito, pegando dinheiro emprestado usando a função de corretagem na margem do Robinhood e colocou todas as suas economias naquela moeda digital. Seu investimento foi cerca de US$ 250 mil. Nas semanas seguintes, acompanhou obsessivamente o dogecoin se tornar um fenômeno da internet, cujo valor eclipsou a de grandes empresas como Twitter e General Motors.

Atualmente, sua criptofortuna é de aproximadamente US$ 2 milhões. A iniciativa de Contessoto — que abandonou a faculdade e não tem treinamento formal em finanças— é parecida com a de um apostador com sorte que entra num cassino, coloca todas as fichas em uma única virada da roleta e sai dali milionário.

Para alguns, ele também se tornou o símbolo de um novo tipo de investidor hiper-online, que teve lucros rápidos ao aplicar as técnicas da economia da atenção digital aos mercados financeiros. Isso incluindo compartilhar memes, alimentar fofocas e produzir intermináveis fluxos de conteúdo para redes sociais.

Anúncio

Esses investidores, na maioria são homens jovens que não se comportam ‘racionalmente’. Eles mão optam por investimentos baseado em seus fundamentos ou nas estimativas de analistas de Wall Street. Seus critérios são, digamos, mais amplos, avaliando se eles são engraçados, se parecem futuristas ou quantas celebridades estão tweetando sobre eles. Seu entendimento é que, no mundo atual, saturado de mídia, a atenção é a commodity mais valiosa. Logo, tudo que atrai muita atenção deve valer algo.

“Os memes são a linguagem da geração do milênio. Agora vamos ter um meme ligado a uma moeda”, resume Contessoto, que aos 6 anos foi do Brasil para os Estados Unidos, quando seus pais decidiram tentar a vida por lá.

O fá barbudo de hip-hop, que atende online pelo apelido de Jaysn Prolifiq, cresceu em um subúrbio do estado de Maryland, vendo sua família enfrentar dificuldades com dinheiro e prometeu que ficaria rico. Já adulto, mudou-se para Los Angeles, na Califórnia, onde conseguiu um emprego ganhando US$ 36 mil por ano como editor de vídeo iniciante, enquanto tentava agenciar apresentações de um rapper que ele conhecia.

Como a maioria das pessoas na sua idade, o sonho era economizar o suficiente para comprar uma casa. Mas as coisas não estavam fáceis e ele passou vários anos dormindo no sofá de amigos, enquanto tentava economizar o bastante para dar uma entrada.

Em 2019, começou a carreira de investidos, comprando ações no Robinhood, aplicativo de corretagem que não cobra comissão. No início, optou por empresas conhecidas, como Tesla e Uber, e quando via que esses negócios ganhavam dinheiro, comprava mais. Em janeiro de 2021 acompanhou fascinado um grupo de investidores do Reddit aumentar com sucesso o preço da ação da GameStop, confrontando os fundos hedge que tinham apostado contra o varejista de videogames e ganhando milhões de dólares no processo. Quando ele tentou entrar no negócio da GameStop era tarde demais e acabou perdendo a maior parte do seu investimento.

Pouco depois, Contessoto estava no Reddit quando viu uma postagem sobre a dogecoin. Ele já tinha ouvido falar na criptomoeda, que o bilionário Elon Musk já elogiou. Ao pesquisar melhor, se convenceu de que a imagem engraçada e familiar da dogecoin poderia fazer dela a próxima GameStop.

“A dogecoin tem o melhor branding de todas as criptomoedas”, avalia Contessoto. “Se você colocar na minha frente todos os símbolos de Ethereum, Bitcoin, Litecoin — tudo parece apenas super high-tech e futurista. Mas a dogecoin parece com: ‘E aí, qual é?'”

Sua tese é que, “um dia todos vamos comprar e vender coisas com memes, e a dogecoin vai abrir o caminho”. Mesmo após a queda no preço do cripto ativo, causada em grande parta pela aparição de Musk no “Saturday Night Live”, onde chamou a Dogecoin de “fraude”, ainda é um negócio muito lucrativo. Por exemplo, um dólar investido em dogecoin em 1º de janeiro chegou a valer U$ 203 cerca de três meses depois. Nada teve uma valorização comparável, nem Bitcoin, Ethereum ou qualquer ação da 500 maiores empresas do mundo.

O que então explica a durabilidade da dogecoin?

Sem dúvida, a mania da dogecoin, pelo menos em parte pode ser atribuída a uma combinação de tédio da era pandêmica com o apelo eterno das investimentos que prometem enriquecimento rápido.

Mas existem outros elementos nessa equação. Nos últimos anos, os custos crescentes da habitação nos Estados Unidos, aliado a recorde em dívidas estudantis e taxas de juros historicamente baixas tornaram mais difícil para os jovens alcançar a estabilidade financeira trabalhando em uma profissão e lentamente guardando parte de cada salário recebido, como fizeram seus pais.

Contessoto ganha US$ 60 mil por ano em seu emprego atual, quantia que nem perto é suficiente para comprar uma casa de tamanho médio em Los Angeles. Para isso ele precisaria quase US$ 1 milhão. Ele ainda dirige um Toyota antigo e passou anos vivendo frugalmente. Mas com mais de 30 anos decidiu procurar algo que pudesse lhe dar fortuna da noite para o dia, e acabou apostando no Dogecoin.

“Eu sinto que aqueles especialistas da TV, a geração mais velha do dinheiro antigo, tentam assustar as pessoas para terem segurança, assim ninguém fica muito rico”, afirma.

Para horror dos consultores financeiros tradicionais, o brasileiro ainda não vendeu seus milhões em Dogecoins. Ele aposta que o preço da moeda continuará subindo, e não quer perder os lucros futuros vendendo cedo demais. O plano é vender 10% de seus ativos no ano que vem, quando seus lucros serão classificados como ganhos de capital em longo prazo e pagarão uma alíquota de imposto menor.

Por enquanto, ele continua se apresentando como especialista em Dogecoin, adotando apelidos como “The Dogefather” e “Slumdoge Millionaire” e fazendo vídeos no YouTube para promover a moeda digital.

“Eu sou agressivo quando eles entram na comunidade da dogecoin”, relata. “Se isso superou minha expectativa da dogecoin, e eu a atingi em apenas dois meses, imagine onde estará daqui a um ano.”

A realidade é dura e o preço da dogecoin já caiu quase 50% em relação a seu pico, tirando centenas de milhares de dólares da carteira de Contessoto. Mesmo assim, o  “Dogefather” pretende manter os ativos — “HODL”, ou “hold on for dear life”, como dizem os que negociam com criptomoedas— apesar da recente turbulência do mercado. Recentemente, postou um print de tela de seu app de corretagem mostrando que comprou mais. Após ver o valor de seu patrimônio em dogecoins cair para US$ 1,5 milhão, cerca de metade do que tinha no pico, publicou outra tela de sua conta no Reddit.

“Se eu consigo aguentar [hodl], vocês também conseguem!”, escreveu Contessoto, que não quer ter entre os apelidos o temível “mãos de alface” – como são chamados os que negociam seus criptos assim que o preço começa a cair.