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O Partido Comunista da China deu mais um passo na repressão ao uso e comércio de bitcoin, atacando o setor que supervisiona a mineração de novos tokens de criptomoeda no país.

As novas medidas, reveladas na noite de sexta-feira (21) agitaram os mercados de criptomoedas no fim de semana. Algumas criptomoedas estão suspendendo alguns negócios na China, gerando incerteza sobre uma etapa crítica do processo para colocar mais dessas moedas em circulação.

O vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, explicou a um grupo de autoridades financeiras que o governo iria “reprimir a mineração de bitcoins e a atividade comercial” como parte de seu objetivo de alcançar estabilidade financeira. O regime comunista decidiu que as moedas digitais não deveriam ser negociadas nem nos mercados financeiros nem na economia real como dinheiro, pois não são “moedas reais”. Embora cerceie as instituições financeiras, o país não proíbe indivíduos de manter criptomoedas em caráter pessoal.

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Na verdade, a China há anos busca restringir o uso de criptomoedas em seu território, mas o foco na mineração de moedas é novidade. Conforme noticiou a CNN, o governo chinês está adotando uma abordagem mais agressiva e e pode ter um impacto global.

Os principais mineradores de criptomoedas já estão vendo as consequências da decisão estatal. A empresa chinesa HashCow  – dona das maiores fazendas de mineração do mundo – informou no sábado (22) que deixaria de vender máquinas para clientes na China. Além disso, reembolsará qualquer pessoa que tenha pagado por uma máquina, mas ainda não tenha recebido. A decisão não afeta o funcionamento de suas máquinas de mineração de criptomoedas. “Apoiaremos ativamente todos os tipos de leis e regulamentações no país para evitar riscos regulamentares”, escreveu a HasCow.

Outra mineradora chinesa, a BTC.TOP, também decidiu não oferecer mais serviços de mineração para clientes na China continental. “A partir de agora, iremos minerar principalmente na América do Norte. Não vale a pena correr o risco regulatório”, explicou seu CEO, Jiang Zhuoer, em sua conta na rede social Weibo no sábado.

Essas decisões podem ter grandes consequências para o mercado de criptomoedas. Por exemplo, o valor do bitcoin em parte é determinado pelo número finito de moedas que podem ser criadas: 21 milhões. Sabidamente, nem todas as moedas estão em circulação, e os “mineradores” de bitcoins usam computadores para resolver quebra-cabeças complexos e, assim, criar um novo “bloco” na cadeia. Os computadores necessários para esse processo são operados por empresas como HashCow e BTC.TOP.

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Segundo pesquisa publicada pela revista científica “Nature Communications” em abril, a China é responsável por mais de 75% da mineração de bitcoin em todo o mundo.

Jiang afirmou em outras postagens em suas redes sociais que o governo está tentando evitar um fluxo maciço de capital para a mineração de criptomoedas, mas que os indivíduos ainda tem permissão para minerar por conta própria. Ele acredita que metade das máquinas do país podem ser suspensa como resultado das últimas ações, pois a repressão está focada em grandes fazendas de mineração. Também antevê que pools de mineração na Europa e na América do Norte em breve devem ultrapassar os chineses nos rankings de produção.

O valor do bitcoin e das ações de empresas relacionadas a criptomoedas foram abalados após as mudanças da China. No domingo, a queda chegou a 13%. A moeda foi negociada pela última vez a cerca de US$ 36 mil –  191,5 mil – por moeda, bem abaixo do pico de US$ 64 mil – R$ 340,5 mil – que atingiu um mês atrás, conforme mostrou a consultoria CoinDesk.

As ações da empresa chinesa de mineração de criptomoedas BIT Mining despencaram 23% em Nova York, enquanto a bolsa de criptomoedas Huobi Technology, perdeu 22% de valor na bolsa de Hong Kong.

A desvalorização das ação da Huobi, que fornece hospedagem para mineradores e outros produtos relacionados a criptomoedas, veio após a empresa suspender os serviços relacionadas à mineração para novos usuários na China continental “para se focar mais na expansão de nossa presença no exterior”.

“Mais uma vez, a China mostrou quem era o chefe, sinalizando uma repressão aos mineradores de criptomoedas”, escreveu Jeffrey Halley, analista de mercado sênior para Ásia-Pacífico da Oanda, nesta segunda-feira. Para ele, o risco regulatório “representa uma ameaça existencial ao espaço da moeda virtual”.

Recentemente, a exchange XMEX, que afirma ter 3 milhões de usuários no mundo todo, encerrou suas atividades na China, alegando que não deseja violar “nenhuma lei”.

Preocupação ambiental

As novas medidas do governo chinês, em tese, não querem apenas reduzir o risco financeiro dos cidadãos que lidam com cripto. Os computadores necessários para a mineração de bitcoins consomem muita eletricidade, trazendo preocupações sobre o custo para o meio ambiente.

Considerando apenas a China, o bitcoin deve gerar mais de 130 milhões de toneladas métricas de emissões de carbono até 2024, indica o estudo da “Nature Communications”. Para efeitos de comparação, é mais que a produção anual total de emissões de carbono da República Tcheca e do Qatar em 2016.

Essa produção é um grande problema para os ambiciosos planos climáticos do governo chinês. O ditador Xi Jinping prometeu tornar seu país neutro em carbono até 2060, e a China já luta para conter as emissões de carbono de outras indústrias.

Na documentação oficial, algumas autoridades na China apontam preocupações ambientais como o principal motivo para a restrição da mineração em larga escala. Por exemplo, a Região Autônoma da Mongólia Interior, anunciou em fevereiro que encerraria todos os projetos de mineração de criptomoedas na região até o final de abril para reduzir as emissões.

Trata-se de uma província rica em carvão, que se tornou um centro de mineração de bitcoin devido à abundância de energia barata. O governo local  criou linhas diretas para encorajar os residentes a denunciar empresas que eles suspeitam serem fazendas de mineração de criptomoedas.