O Banco Central (BC) vem debatendo internamente desde o ano passado a criação de uma CBDC (Moeda Digital de Banco Central) que deverá se chamar e-real, seguindo a tendência mundial. A Venezuela, por exemplo, anunciou que lançará a sua em outubro.

O tema ainda está na fase de estudos no órgão de emissão da moeda nacional, ao mesmo tempo em que os economistas da instituição debatem com especialistas em fóruns públicos. No final de julho, ocorreu um webinário sobre “Os potenciais do real em formato digital”.

O analista responsável por coordenar o estudo é Fabio Araujo, que deu entrevista ao portal IG, falando sobre a expectativa de implementação desse Real Digital “em dois ou três anos”. Para o BC, o objetivo é oferecer mais uma opção entre as modalidades de transação financeira já existentes e amplamente utilizadas como TED, DOC e o Pix.

Um dos fios condutores da iniciativa no Brasil ´são os chamados “Smart Contracts”, ou contratos inteligentes, que facilitam o acesso aos diversos produtos oferecidos pelo sistema financeiro. Tudo é feito eletronicamente e com segurança, eliminando a burocracia.

“O foco da nossa iniciativa é fomentar novos modelos de negócio. Supondo que você tenha um pequeno negócio, mas não está adequado aos microcréditos ofertados atualmente. Essas tecnologias vão permitir maneiras mais eficientes de gerar contratos específicos para cada modelo de negócio”, destaca Araujo.

Sem eliminação da moeda física

A versão digital da moeda nacional será lastreada no real e terá o mesmo valor da moeda física. Contudo, a expectativa é que os lojistas ofereçam descontos para sua utilização do recuso, como vem acontecendo com pagamentos pelo Pix.

“O desconto tem a ver com a taxa de operação. Nós do Banco Central esperamos que o CBDC tenha uma taxa muito baixa, logo os comerciantes devem dar preferência a este formato”, avalia o analista.

Só que o foco do e-real é distinto do Pix, que concentra-se em pequenos pagamentos cotidianos. “Com o Pix você vai ali paga uma conta, vai à padaria, supermercado, etc. O objetivo com o Real Digital é dar mais liquidez ao mercado, os bancos serão os responsáveis por estabelecer os produtos oferecidos ao cliente”, explica.

Uma dúvida comum é sobre a desvalorização da moeda digital, já que há criptomoedas deflacionárias. O Real digital, por ser lastreada no moeda corrente, acompanha a volatilidade do real.

“A gestão da inflação é feita através das métricas de liquidez da economia, e a CBDC (Moeda digital do Banco Central, na sigla em inglês) só será mais um dos mecanismos financeiros sem impacto real no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo)”, garante Araujo.

E-Real não será uma criptomoeda

Enquanto as criptomoedas como Bitcoin, Ethereum, e os demais tokens não possuem um órgão regulador controlado pelo Estado, o Real Digital tem a gestão centralizada no Banco Central.

A emissão de uma moeda digital não significa que o Brasil vai adotar criptomoedas como forma corrente de pagaamentos, como fez El Salvador, por exemplo.

Segundo Fábio Araújo, “o Bitcoin é visto pelo BC como um ativo especulativo de alta volatilidade. Não temos nenhuma intenção de fazer contratos denominados em Bitcoin, mas também não temos a intenção de proibir que as pessoas tenham a moeda na carteira”, diz.

“As pessoas só tem que ter consciência do risco que elas estão assumindo ao comprar a criptomoeda. Para nós é como aceitar ações da Apple como pagamento, não é um ativo ideal para fazer compra e venda”, encerra.