Uma Initial Coin Offering ICO), ou oferta inicial de moeda em português, é o equivalente da indústria de criptomoeda a uma oferta pública inicial (IPO). Uma empresa que busca arrecadar dinheiro para criar uma nova moeda digital, aplicativo ou serviço lança um ICO como forma de arrecadar fundos.

Os investidores interessados ​​podem aderir à oferta e receber em troca uma quantidade do novo token emitido pela empresa. Esse criptoativo pode ser usados para aquisição de algum produto ou serviço que a empresa esteja oferecendo, ou apenas representar uma participação no projeto recém-lançado. Nesses casos, a compra é mais especulativa, visando apenas o lucro com preço majorado no futuro.

Embora seja uma comparação comum, as ICOs são muito diferentes do crowdfunding, pois seus investidores são motivados por um potencial de lucro, enquanto os fundos levantados em campanhas de crowdfunding são basicamente doações. Por esses motivos, os ICOs são chamados de “crowdsales”.

Principais vantagens

As ICOs são um método popular de arrecadação de fundos usado principalmente por startups que desejam oferecer produtos e serviços, geralmente relacionados com o mercado de criptomoeda e blockchain.

Essas iniciativas são semelhantes a ações e podem gerar grandes retornos para os primeiros investidores. Como não são regulamentadas, é preciso ser excessivamente cauteloso e pesquisar bem antes de investir em alguma ICO. A história recente mostra que muitas acabaram se revelaram fraudulentas ou tiveram um desempenho muito ruim e só deram prejuízo para quem acreditou nelas.

Para participar de um ICO, o investidor geralmente precisará comprar uma moeda digital primeiro para ter acesso a carteira que faz trocas daquela criptomoedas.

Os primeiros investidores em uma operação de ICO geralmente são motivados a comprar tokens na esperança que eles tenham sucesso após o lançamento. Se isso realmente acontecer e tiverem  ampla adesão, o valor dos tokens que eles compraram durante a ICO aumentará muito acima do preço estabelecido no primeiro momento, e eles obterão um bom lucro caso desejem vender.

Esse é o principal benefício de uma ICO: grande potencial para retorno financeiro. De fato, vários ICOs transformaram pequenos investidores em milionários. Por exemplo, no boom de 2017, havia 435 ICOs bem-sucedidos, cada um levantando uma média de US$ 12,7 milhões. O valor total arrecadado para 2017 foi cerca de US$ 5,6 bilhões, com os 10 maiores projetos captando 25% desse total. Em média, o retorno dos ICOs foi 12,8 vezes sobre o investimento inicial conforme o preço em dólares. Quem comprou e segurou por um ano, teve lucros de 1.0000%

Em 2018, após uma série de denúncias de ICOs fraudulentas, as coisas enfraqueceram e em 2019 o governo dos Estados Unidos criou uma série de barreiras e a frequência caiu drasticamente, com poucos projetos criados recentemente.

Como funciona uma ICO

Quando uma startup de criptomoeda deseja arrecadar dinheiro por meio de ICO, geralmente publica um documento, chamado de white paper, descrevendo do que se trata o projeto, quanto dinheiro é necessário, quantos tokens virtuais os criadores manterão, por quanto tempo durará a campanha de lançamento e dá alguma ideia sobre os rumos que o token pode tomar no futuro.

Durante a campanha de ICO, apoiadores do projeto compram os novos tokens com moeda fiduciária ou outra criptomoeda. Conforme foi dito antes, é um processo muito parecido com o de lançamento de ações de uma empresa vendida a investidores durante um IPO. A grande diferença é que, para uma oferta inicial pública há uma grande burocracia e a necessidade de permissão dos órgãos responsáveis antes das ações serem vendidas em Bolsas de Valores

Se o dinheiro arrecadado na ICO não atingir o mínimo esperado pela empresa, o dinheiro pode ser devolvido aos financiadores e a oferta inicial de moeda será considerada malsucedida. Caso as expectativas de financiamento sejam atendidas dentro do prazo especificado, o dinheiro arrecadado é usado para execução plena do projeto.

Dependendo do país onde a ICO for lançada, órgãos regulamentadores poderão intervir. Foi o que aconteceu com a Securities and Exchange Commission (SEC) dos EUA no lançamento do aplicativo Telegram. Seus criadores arrecadaram US$ 1,7 bilhão durante a ICO entre 2018 e 2019, mas a SEC entrou com uma ação de emergência e obteve uma ordem de restrição temporária, alegando uma suposta atividade ilegal por parte da equipe de desenvolvedores. Em março de 2020, o Tribunal Distrital do Sul de Nova York emitiu uma liminar, e o Telegram teve que devolver US$ 1,2 bilhão aos investidores e pagar uma multa de US$ 18,5 milhões.

Algumas considerações importantes

Os investidores que desejam comprar em ICOs devem primeiro se familiarizar bem com o mercado das criptomoedas. No maioria dos ICOs, o pagamento é feito com criptomoedas já existentes. Isso significa que um investidor do ICO precisa ter uma carteira de criptomoeda configurada para utilizar  as mais comuns (bitcoin e ethereum), além de possuir uma carteira capaz de armazenar qualquer novo token ou criptomoeda que deseja comprar.

Quem deseja ser um dos primeiros a possuir uma determinada nova moeda digital precisa se informar bastante sobre esse novo projeto. Já existem sites dedicados que agregam ICOs, permitindo aos investidores descobrir novas oportunidades de investimento e comparar ofertas diferentes umas com as outras.

Outro aspecto importante a ser considerado é a liquidez. Ou seja, o investidor precisa saber como poderá resgatar o que foi investido e as maneiras de utilizar aqueles tokens. Afinal, não há sentido em tê-los se não pode utilizá-los.

É importante lembrar que o sistema descentralizado de finanças torna fácil para uma empresa lançar um ICO e emitir novos tokens. Existem serviços online que permitem a geração de tokens de criptomoeda em questão de segundos. Os investidores devem ter isso em mente, pois uma criptomoeda não possui nenhum valor intrínseco ou garantias legais. O segredo está no tamanho da base de usuários e no apoio que o projeto recebe.

Às vezes, as ICO capazes de oferecer um notável retorno sobre o investimento não são os projetos que arrecadam mais dinheiro e vice-versa. O ICO da Ethereum, em 2014, foi pioneiro, levantando US $ 18 milhões em apenas 42 dias. O sucesso do Ethereum (ETH) provou ser crucial para o ICO oferecer algum tipo de inovação, no seu caso do ETH foi a utilização para aplicativos descentralizados (dApps). Quando foi lançado, o ether custava cerca de US $ 0,31. Em maio de 2021, na sua máxima histórica, ultrapassou os 4 mil dólares por unidade.

Agora lembremos do caso do Petro (PTR), criptomoeda lançada pela República Bolivariana da Venezuela numa tentativa de segurar a avassaladora inflação do país. Seu ICO, em fevereiro de 2018, foi extremamente bem-sucedido. Estima-se que tenha levantado 5 bilhões de dólares. Na época, dizia-se que representantes do governo russo ajudaram a Venezuela a lançar o Petro e garantir seu sucesso. Como o nome indica, ela seria lastreada em petróleo, a grande fonte de riqueza da Venezuela.

Cada Petro já chegou a custar US$60, o preço de um barril de petróleo, mas hoje em dia é difícil conseguir negociá-la, pois o governo dos EUA proibiu que seus cidadãos negociassem com Petro. Posteriormente, até mesmo dois dos próprios órgãos regulatórios da Venezuela a consideraram uma criptomoeda ilegal.

Etapas de uma ICO

Via de regra, essas são as etapas do lançamento de uma nova criptomoeda:

  • Whitepaper: Geralmente a primeira coisa é o lançamento do white paper, documento que serve para estabelecer o escopo do projeto, detalhando como aquela tecnologia vai funcionar, como a moeda digital será usada, quantas serão emitidas e com que frequência, além de explicar a lógica dela existir. Pode vir acompanhado de detalhes sobre seus programadores e um plano de gastos, mostrando o destino dos valores que serão arrecadados, a queima e outras medidas para evitar desvalorização.
  • Abertura da oferta inicial: A proposta é lançada por uma empresa de tecnologia ou startup, e quem se interessar por ela pode reservar ou comprar seu token ou criptomoeda fazendo o pagamento com outra  criptomoeda ou em moeda fiduciária (como o dólar ou euro).
  • Encerramento da oferta inicial: Avalia-se o total de capital obtido e a empresa responsável comunica oficialmente se o valor que ela pretendia foi atingido. Caso não tenha, devolve-se o valor para os investidores.
  • Distribuição de tokens ou criptomoedas: Caso o valor esperado seja alcançado, encerra-se a oferta inicial e os investidores têm acesso a seus tokens ou criptos, que podem ser guardados na carteira de  sua preferência, como forma de reserva de valor, trocados por outro ativo ou por moeda fiduciária em uma plataforma.