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Máquinas de mineração estão trabalhando sem parar na Venezuela. Atraídos pelos baixos custos de eletricidade, mineradores locais de criptomoedas estão investindo no que se mostrou ser um negócio muito lucrativo.

Segundo reportagem da Agência France Presse, a matemática é simples. A mineradora local Doctor Miner, de Theodoro Toukoumidis, opera quase 80 computadores que trabalham o dia inteiro. Custando na média de US$ 400 por unidade, cada equipamento gera cerca de US$ 125 por mês. A conta de luz, segundo o proprietário “não chega a 10 dólares por mês”.

“Descobrimos uma forma de gerar renda passiva (…), transformando energia em dinheiro”, relatou ele à AFP. Como o governo venezuelano tem uma política de eletricidade subsidiada, o valor na conta mensal é muito atrativo para a multiplicação de rigs da mineração.

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“Vendi meu carro para comprar uma máquina (…) e meu sócio trocou a motocicleta que tinha por uma máquina”, conta o dono. Desde 2016 ele começou a montar computadores para mineração, oferecendo para  familiares e amigos, que acabaram entrando no negócio da mineração.

Paradoxalmente, o país de Nicolás Maduro convive com apagões constantes, provocados pelo colapso dos serviços públicos, e uma das menores bandas largas fixas do continente, segundo o índice da Speedtest. “Para a mineração não é preciso supervelocidade. É preciso ter internet estável”, explica Aaron Olmos, economista e pesquisador.

Ele vê as criptomoedas como uma saída para a hiperinflação venezuelana, que somente em 2020 foi de  2.959,8%. A moeda local – o bolívar – convive com constantes cortes de zeros, numa tentativa de se mascarar a tremenda perda de valor monetário.

Em 2018, o próprio governo resolver se aventurar na criptografia, lançando a Petros, uma criptomoeda com lastro em dólar. Mas o projeto fracassou e chegou a ser considerada “fraude” pelas algumas exchanges.

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Segundo o LocalBitcoin.com, o bitcoin já é amplamente aceito como meio de pagamento em algumas cidades da Venezuela. O volume de transações chegou a de 303 milhões de dólares em 2019 e, US$ 110 milhões foram negociados somente este ano. O DASH também é popular em pequenos comércios e supermercados.

Numa tentativa de frear o aumento de transações financeiras que não monitoradas pelo regime de Maduro, o governo venezuelano estabeleceu em 2018 um órgão regulador de ativos criptográficos (Sunacrip). Embora no início tenha proibido a atividade, nos últimos dois anos só permite a mineração de quem é registrado.

Como a maioria dos mineradores não confia no controle estatal, continuam operando fora do radar das autoridades. Tentando intimidá-los, as autoridades já promoveram cortes de energia para quem tem gastos de energia muito acima da média.

Nos últimos meses, centenas de máquinas foram apreendidas e pessoas presas. Apesar do risco, o número de pequenos mineradores continua aumentado, como uma das poucas alternativas que os cidadãos têm para não padecer frente ao fracasso da economia nacional.