As criptomoedas têm aparecido nas manchetes nos últimos meses, com críticas ao seu potencial de prejudicar o meio ambiente. Alguns fatos contribuíram para o debate sobre o futuro desse mercado ser mais “verde”. As pressões vêm de todos os lados, desde empresas como a Tesla, que parou de receber bitcoin como pagamento por causa do alto consumo de energia não renovável para sua geração, até o governo da China, que tenta reduzir a mineração em seu território alegando preocupações ambientais.
No entanto, pouco se fala sobre quanta eletricidade é necessária para alimentar a rede Bitcoin. Pois bem, dados do Índice de Consumo de Eletricidade do Bitcoin da Universidade de Cambridge (CBECI), divulgado pela BBC, mostram uma comparação do consumo de energia do Bitcoin com uma variedade de países e empresas. Esse poderia ser um ponto de partida nesse debate.
Primeiramente, é preciso lembrar que quando as pessoas minam bitcoins, elas usam computadores para resolver complexos cálculos matemáticos que têm uma solução hexadecimal de 64 dígitos conhecida como hash. Os mineradores podem ser recompensados com bitcoins, mas apenas se chegarem à solução antes dos outros.
Buscando acelerar esse processo, são montadas as chamadas fazendas de mineração de Bitcoin – depósitos cheios de computadores. Esse poder computacional concentrado permite que os mineradores aumentem seu hashrate, ou seja, o número de hashes produzidos a cada segundo. Um hashrate mais alto requer maiores quantidades de eletricidade e, em alguns casos, pode até sobrecarregar a infraestrutura elétrica local.
Diferentemente do Brasil, que depende majoritariamente da eletricidade produzida por hidrelétricas, em muitos países ainda se utiliza termoelétricas e fontes de energia não renováveis, como carvão. Nesse processo, a emissão de gases poluentes. Mas essa não é uma opção do mineradores, que não têm poder sobre as maneiras que casa nação utiliza para gerar energia.
Vamos colocar o consumo de eletricidade do Bitcoin em perspectiva Em 18 de março de 2021, o consumo energético anual da rede Bitcoin foi estimado em 129 terawatts-hora (TWh). Parece muito, mas se o Bitcoin fosse um país, teria o 29º maior consumo anual de energia, mais que a Argentina e menos que a Noruega, por exemplo. Nessa lista, o Brasil está em oitavo lugar.
Quando comparado a nações como os EUA (3.989 TWh) e a China (6.543 TWh), o consumo de energia da criptomoeda é relativamente pequeno. Outros dados podem ajudar a dimensionar as coisas. A rede Bitcoin consome 1.708% mais eletricidade do que o Google, mas 39% menos do que todos os data centers do mundo que, juntos, representam mais de 2 trilhões de gigabytes de armazenamento.
De onde vem essa energia?
O relatório elaborado em 2020 pela Universidade de Cambridge, mostra que 76% dos criptomineradores dependem de algum grau de energia renovável para alimentar suas operações. No entanto, ainda há espaço para melhorias, já que as energias renováveis respondem por apenas 39% do consumo total de energia da criptominação.
Os pesquisadores indicam também que a rede do Bitcoin usa mais energia renovável do que 95% das 80 principais economias globais, números similares ao estudo do Our World in Data. Tais informações desmistificam a narrativa de que as moedas digitais são uma ameaça ao setor energético.
Vejamos uma versão resumida do estudo da Universidade de Cambridge sobre como é produzida energia elétrica nas quatro regiões do planeta. Observe que existem várias fontes numa mesma região e a soma das colunas não deve ser igual a 100%
Fonte de Energia | Asia-Pacifico | Europa | América Latina
e Caribe |
América do Norte |
Hidrelétrica | 65% | 60% | 67% | 61% |
Gás natural | 38% | 33% | 17% | 44% |
Carvão | 65% | 2% | 0% | 28% |
Eólica | 23% | 7% | 0% | 22% |
Petróleo | 12% | 7% | 33% | 22% |
Nuclear | 12% | 7% | 0% | 22% |
Solar | 12% | 13% | 17% | 17% |
Geotérmica | 8% | 0% | 0% | 6% |
Os números compilados pela Cambridge apontam que cerca de 39% da mineração da criptomoeda é abastecida por energia renovável. Além disso, pelo menos 76% dos mineradores de criptomoedas utilizam, ao menos em parcialmente, energia limpa em suas operações.
É preciso considerar que, em 2019, apenas 11,41% da energia produzida no mundo era gerada por fontes renováveis, aponta o Our World in Data. Entre os 80 países estudados, apenas quatro eram melhores do que o Bitcoin no uso de energia renovável: Islândia, Noruega, Brasil e Suécia.
Criptmoedas “verdes”
À medida que as criptomoedas se tornam mais populares, é provável que os governos e outros reguladores voltem sua atenção para a pegada de carbono da indústria. Mas isso não é necessariamente uma coisa ruim.
Mike Colyer, CEO da Foundry, um provedor de financiamento de blockchain, acredita que a criptominação pode apoiar a transição global para a energia renovável. Já David Gerard, autor de “Attack of the 50 Foot Blockchain”, livro que faz críticas ao consumo de energia para mineração de criptomoedas, propõem uma “taxa de carbono para os mineradores”.
O futuro parece que vai oferecer alternativas ao passo que o mercado cripto se autorregula. Já existem moedas digitais que nasceram com essa preocupação ambiental e promoveram ativamente formas mais limpas de gerá-la.
O SolarCoin, por exemplo, destina-se a recompensar instalações de energia solar. Ele dá novas moedas como recompensa pela produção de energia. Ou seja, cada MWh de produção solar é recompensado com um SolarCoin.