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As fusões e aquisições na América Latina ficaram acima de US$ 105 bilhões nos primeiros nove meses de 2021, o maior volume em uma década, de acordo com dados do Refinitiv, à medida que grandes quantidades de capital novo alimentaram um frenesi de negócios na região.

“Os rendimentos de IPOs e ofertas de ações financiaram aquisições em uma variedade de setores, como saúde, petróleo e gás, energia, fintechs e varejo”, disse Ricardo Bellissi, codiretor de banco de investimento do Goldman Sachs no Brasil.

Mesmo com os mercados de ações latino-americanos atingidos por volatilidade, inflação e taxas de juros mais altas, especialmente no Brasil, onde também haverá eleições presidenciais no próximo ano, a maioria dos banqueiros não espera uma queda nas fusões e aquisições no curto prazo.

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Depois de levantar US$ 25 bilhões em ofertas de ações este ano e quase US$ 30 bilhões no ano passado, as empresas latino-americanas têm fortes posições de caixa para financiar fusões e aquisições.

“Mesmo com a inflação mais alta, as taxas de juros subindo e uma eleição no Brasil no próximo ano, o fluxo de negócios deve permanecer forte”, disse Bruno Amaral, chefe de Fusões e Aquisições do Banco BTG Pactual, líder da América Latina no ranking de Fusões e Aquisições da Refinitiv até setembro.

Amaral também está otimista com relação a possíveis negócios no Chile, um dos países latino-americanos que melhor lidou com a pandemia, e Peru e Colômbia, que, como o Chile, estão se beneficiando dos altos preços das commodities.

O maior negócio da região até agora é a proposta de aquisição da NotreDame Intermedica por US $ 9,5 bilhões pelo rival Hapvida SA, ainda sob análise do CADE.

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Outros negócios importantes incluíram a aquisição dos ativos do Grupo Televisa pela Univision e a cisão da divisão de atacado da varejista brasileira GPA SA Asai, com valores próximos a US$ 5 bilhões cada.

Entre os setores mais ativos estão o de saúde, ainda muito fragmentado na região, e as fintechs, que atraem muito o interesse dos investidores ao se apoderarem de um mercado há muito dominado por bancos tradicionais.

Negociações de privatização e infraestrutura estão contribuindo para valores maiores de negociação. O leilão das operações estatais de água e esgoto do Rio de Janeiro arrecadou R$ 22,6 bilhões e a venda das unidades de fibra e móveis da operadora Oi, quase R$ 30 bilhões. Em outra transação futura, a America Movil está programada para cindir seu negócio de torres na América Latina até o final do ano.

As vendas de refinarias da estatal Petrobras e unidades de fibra da Copel, Telefonica e TIM no Brasil estão previstas para os próximos meses.

A atividade transfronteiriça também aumentou. “As empresas brasileiras estão de volta às aquisições no exterior”, disse Luiz Muniz, sócio e chefe para a América Latina da Rothschild & Co, citando a aquisição da unidade da JBS Pilgrim’s Pride Corp por 819 milhões de euros das unidades de alimentos ao consumidor britânicas e irlandesas do Kerry Group Plc, entre outros.

Os SPACs, que lidam com altos preços-alvo na América do Norte, também estão se concentrando na região, mas ainda não anunciaram um grande negócio.

A consultoria financeira é muito ativa na América Latina, com 77% dos negócios acima de US$ 100 milhões usando consultores financeiros.

VOLATILIDADE DE ELEIÇÃO

Mesmo com o índice Bovespa de referência do Brasil caindo 5% este ano e mais de 50 empresas decidiram adiar ou cancelar seus IPOs, a emissão de ações ficou estável nos primeiros nove meses de 2021, com US$ 21,12 bilhões em ofertas de ações.

Na América Latina como um todo, o total cresceu 12%, impulsionado por empresas mexicanas como a America Movil, que vendeu um título conversível de US$ 2,7 bilhões, e a Corporacion Inmobiliaria Vesta, e uma emissão do Uruguai.

Os banqueiros dizem que as empresas brasileiras estão apenas esperando um período melhor nos mercados de ações para lançar suas ofertas.

“Algumas empresas podem antecipar o timing de seus negócios para evitar exposição desnecessária à volatilidade, que pode acontecer em ano eleitoral no Brasil”, disse Rodolfo Soares, codiretor de banco de investimento do Goldman Sachs no país. (Com informações de Reuters).