Na manhã de 1º de julho, a blockchain do bitcoin (BTC) ficou cerca de 139 minutos (2 hs e 19 min) sem receber nenhum bloco. Trata-se do segundo maior intervalo de tempo entre blocos desde 2011, conforme apontou o jornalista chinês Colin Wu.

As informações do BTC.com mostram que o funcionamento da rede funcionava normalmente até o bloco 689.300, minerado às 7h27 pelo Poolin, um dos maiores pools de mineração do mundo. A média entre os blocos atualmente é cerca de dez minutos. No entanto, essa redobrada dificuldade de mineração está sendo causada, principalmente, pela falta de mineradores.

O motivo é que as maiores estruturas de mineração ficam na China, responsável por cerca de 65 a 70% da extração mundial da criptomoeda líder. Com a decisão do governo chinês de cortar a energia dessas empresas dedicadas à mineração, muitas fecharam e estão movendo o maquinário para outros países, como o Cazaquistão. Porém, durante o processo, as máquinas foram desligadas.

Influenciado por isso, neste sábado, 3 de julho, o bitcoin registrou sua maior queda na dificuldade de mineração, de quase 28%. Trata-se do maior ajuste de dificuldade negativo na mineração de sua história. Estima-se que a queda será de 27,14%, passando de 19,93 T para 14,52 T.

O ajuste começou nesta madrugada e deve melhorar a hash rate, causando impactos na rede. Ou seja, a dificuldade é ajustada à nova realidade do mercado de mineração, pois o blockchain identificou que a dificuldade de mineração está alta demais para a hashrate atual.

Lembrando que hashrate, ou taxa de rate, é o poder de computação coletivo das mineradoras em todo o mundo.

Como funciona o hashrate

De maneira bem resumida, o processo de mineração ocorre quando se utiliza o processamento computacional  para tentar resolver uma complexa equação matemática antes dos outros conectados ao blockchain. Resolver esse “quebra-cabeça” resulta na emissão de um novo bloco, um processo que ao mesmo tempo gera um novo bitcoin e atualiza o livro-razão digital, controlando todas as transações da rede.

Agora, a rede bitcoin diminuiu para 14 a 19 minutos de tempo de bloqueio. É exatamente por isso que o bitcoin é recalibrado a cada 2016 blocos, ou aproximadamente a cada duas semanas, redefinindo o grau de dificuldade  para os mineradores.

″Pela primeira vez na história da rede bitcoin, temos uma paralisação completa da mineração em uma região geográfica que afetou mais de 50% da rede”, explica Darin Feinstein, fundador da Blockcap e Core Scientific.

De fato, já foi identificada ma queda de mais de 50% do hashrate da rede bitcoin desde seu pico de mercado em maio. Menos pessoas minerando significa que menos blocos são resolvidos a cada dia.

 

O gráfico acima, gerado pelo site blockchain.com, que monitora a rede bitcoin, mostra a queda recente na hasrate de mineração.

Lucros maiores a partir de agora

Conforme a agência de notícias norte-americana CNBC,  está muito mais fácil, e portanto mais lucrativo, extrair bitcoins. O algoritmo do bitcoin se ajustou para garantir que a produtividade dos mineradores não continue a cair.

O ajuste para baixo significa que mais dinheiro está indo para os mineradores de bitcoin que permanecem online. “Será uma festa de receita para os mineradores”, disse o engenheiro de mineração de bitcoin Brandon Arvanaghi. “Agora ficarão com uma fatia significativamente maior da torta, o que significa que ganham mais bitcoin todos os dias.”

A mudança deste sábado no código bitcoin restaurou os tempos de bloqueio para a janela ideal de 10 minutos. O algoritmo bitcoin é programado para lidar com um aumento ou diminuição nas máquinas de mineração, explica Mike Colyer, CEO da empresa de moeda digital Foundry. “É um mercado autorregulado que não exige nenhum comitê externo para determinar o que fazer. Este é um conceito muito poderoso ”, disse ele.

Menos concorrentes e menos dificuldade significa que qualquer minerador com uma máquina conectada verá um aumento significativo na lucratividade por pelo menos duas semanas, quando deve ocorrer um novo reajuste da dificuldade. “Todos os mineradores de bitcoin compartilham da mesma economia e estão minerando na mesma rede, então os mineradores públicos e privados verão um aumento na receita”, disse Kevin Zhang, ex-Diretor de Mineração da Greenridge Generation, a primeira grande usina de energia dos EUA a minerar em grande escala.

Considerando os custos de energia fixos, Zhang estima receitas de US$ 29 por dia para aqueles que usam o minerador Bitmain de última geração, contra US$ 22 por dia antes da mudança. No longo prazo, embora a receita do minerador possa flutuar com o preço da moeda, Zhang também observou que as receitas da mineração caíram apenas 17% desde o pico do preço do bitcoin em abril, enquanto o preço da moeda caiu cerca de 50%.

O momento atual pedia que a dificuldade fosse ajustada, uma vez que pools de mineração anteriormente localizados na China não voltaram a funcionar nos padrões esperados. Enquanto essa “reorganização” não termina, a capacidade de mineração total da rede do bitcoin declinou. Não é a primeira vez que isso ocorre, pois a China já investiu anteriormente contra a mineração de criptomoedas, mas nunca conseguiu acabar com a busca pelo bitcoin.

Deve-se ver, nos próximos meses, como será esse novo cenário. Mike Novogratz, CEO da Galaxy Digital enfatizou que a saída da China das grandes mineradoras esse pode ser “um grande fator positivo para o ecossistema”, já que há países que estão oferecendo energia barata para os mineradores se instalarem por lá, como El Salvador.