O Monero (XMR) é uma criptomoeda lançada em 2014, que se apresentou desde o início como um projeto que valoriza a privacidade do investidor e o anonimato, dificultando o rastreamento de transações. Trata-se de uma moeda digital de código aberto, que utiliza o protocolo CryptoNote.
Inicialmente, afirmava trazer uma nova perspectiva para as transações ponto a ponto (P2P) usadas pelo bitcoin. O primeiro nome da moeda foi Bytecoin. Com pouca adesão e sem conseguir apoio para o desenvolvimento, os criadores decidiram dividir a estrutura de blockchain. Surgiu assim a Bitmonero, que depois adotou o nome apenas de Monero.
A rede Monero utiliza a mineração por prova-de-trabalho (PoW), para criar as novas unidades da moeda. Ou seja, o blockchain utiliza os recursos computacionais dos mineradores para resolver problemas matemáticos complexos e validar a operação. Assim, novas moedas são postas em circulação para recompensar os mineradores pele seu “trabalho”.
O processo de mineração para Monero é baseado em um conceito igualitário. Segundo esse princípio, todas as pessoas são iguais e merecem oportunidades iguais. Essa é uma ideia levada muito a sério na plataforma, pois seus desenvolvedores não mantiveram nenhuma participação quando lançaram a criptomoeda, apostando em contribuições e no apoio da comunidade para desenvolver ainda mais o projeto.
Seu blockchain é otimizado para ser mais eficiente em microprocessadores comuns (CPUs). Uma das principais vantagens é que os mineradores “caseiros” podem gerar Monero usando computadores pessoais, não precisando de hardware especial, como no caso do bitcoin, que requer circuitos integrados ASIC (application-specific integrated circuit). Basta utilizar um software de mineração que forneça suporte a Monero
Nos primeiros anos após o lançamento, o XMR ganhou muita popularidade e viu seu valor de mercado crescer rapidamente. Contudo, atualmente é apenas a 26ª em capitalização, com cerca de 4 bilhões de dólares em junho de 2021. Um dos prováveis motivos para essa diminuição de sua importância no mercado cripto é por ter sido associada seguidamente a operações ilegais, como atividades comerciais suspeitas na dark web e lavagem de dinheiro, justamente por ter mecanismos que dificultam seu rastreio.
Ênfase na privacidade
A principal vantagem anunciada pela Monero sobre as demais sempre foi maior proteção à privacidade do usuário. Por exemplo, o bitcoin é distribuído de uma carteira digital X para uma carteira Y. Já a Monero cria uma espécie de senha, alterada em cada transação. Assim, as transferências só podem ser visualizadas por quem tem acesso a essa chave, o que torna a localização dos donos mais difícil.
Em tese, a Monero é a primeira criptomoeda que deixa os usuários totalmente no anonimato, uma vez que esses identificadores são desbloqueados apenas pelo dono, que tem essa senha secreta da transação. A blockchain usa um sistema de lavagem integrado. Esse método agrega todos os valores transferidos pela blockchain em diversas senhas diferentes e redistribui para os mesmos donos.
Como a quantidade de Monero permanece a mesma em cada senha, isso não gera prejuízo para o dono. Contudo, fica impossível de encontrar a origem dos valores. Foi exatamente essa característica que fez hackers utilizarem vírus, como o Adylkuzz, que infectava um computador, minerava a Monero e transferia as criptomoedas de forma anônima para suas contas. Diferentemente do bitcoin, cuja distribuição em carteiras permite identificar pelo menos a quantia levantada pelos criminosos, a Monero oculta todas as informações.
Como funciona a Monero
De modo resumido, conforme o site da moeda, o Monero utiliza cinco elementos fundamentais para garantir a privacidade de seus usuários:
- Privacidade obrigatória: aumenta o conjunto do anonimato
- Assinaturas em anel: escondem o remetente da transação
- RingCT (transações confidenciais usando assinaturas em anel): escondem a quantia
- Redes de anonimato (I2P e TOR): escondem a transmissão da transação (o endereço IP do remetente)
- Endereços stealth (camuflados): escondem o destinatário
Vamos entender melhor cada um deles:
Conforme já foi mencionado, a privacidade está no DNA da criptomoeda, norteando todo o seu ecossistema. Não há opção de “desativar” qualquer uma das camadas, tornando a privacidade das transações obrigatória.
Para gerar uma assinatura de anel (ring signatures), a plataforma Monero usa uma combinação das chaves da conta de um remetente, conectando-as a chaves públicas no blockchain. Isso a torna única. Assim, o sistema oculta a identidade do remetente, pois é computacionalmente impossível determinar qual das chaves dos membros do grupo foi usada para produzir a assinatura complexa.
Desse modo, o sistema de assinaturas em anel esconde qual saída de transação (output) está sendo gasta de fato. Nesse processo, a carteira do usuário automaticamente escolhe diferentes saídas na blockchain que já foram usadas em transações passadas por outras pessoas. Para um observador externo, todas essas saídas de transação são um possível remetente.
A tecnologia RingCT (Ring Confidential Transactions, ou transações confidenciais em anel) é utilizada para esconder a quantia transmitida em cada transação. Ela utiliza um recurso de criptografia que previne outras pessoas fiquem sabendo a quantia que está sendo gasta na transação. Ao usá-la, você consegue comprovar aos demais usuários que tem a permissão para usar uma certa quantia, mas não precisa revelar essa quantia.
Isso é usado para verificar que a soma de todas as entradas (inputs) deve ser igual à soma de todas saídas (outputs) da transação. Conforme explicam os desenvolvedores, “no Bitcoin, cada input corresponde a um output (não-gasto) que está sendo consumido na transação. No Monero, cada input da transação inclui um output verdadeiro (não-gasto) e outros 10 outputs chamarizes (gastos ou não-gastos), adicionados com o único objetivo de fornecer privacidade ao remetente. Estes outputs chamarizes são escolhidos na blockchain pelo software de carteira de maneira não-interativa, e correspondem a outputs que foram usados em transações antigas na rede Monero, não necessariamente feitas pelo usuário que está criando a transação atual”.
As redes de anonimato são importantes na arquitetura da Monero porque as criptomoeda se conectam em uma rede ponto-a-ponto (P2P) para fazer as transação. Porém, ao fazê-lo pode vazar algumas informações, como o seu endereço IP e alguns metadados (ex: a data e a hora). Para evitar que essas informações sejam vazadas, as carteiras oficiais do Monero oferecem conexão através das redes de anonimato I2P e Tor, conhecidas de quem utiliza a deep web.
Os endereços stealth (camuflado) acrescentam privacidade adicional, pois esses endereços gerados aleatoriamente para uso único são criados para cada transação em nome do destinatário. O uso dos endereços stealth permite ocultar o endereço de destino real de uma transação e também a identidade do receptor.
Como o Monero é diferente do Bitcoin?
No Brasil, a oferta do real é dividida em diferentes notas e moedas, enquanto a oferta da Monero é dividida em saídas de transação (transaction outputs ou TXO). Cada saída de transação pode armazenar uma determinada quantia de Monero, indo desde centavos até milhões.
Essas saídas de transação seriam equivalentes às moedas ou notas que você tem em sua carteira. Diferentemente do bitcoin, no Monero as saídas de transação não estão vinculados a endereços públicos. Cada saída de transação só possui dois estados possíveis:
- Saída não gasta (UTXO): uma saída que contém uma quantia em XMR
- Saída gasta (STXO): uma saída que já foi gasta em uma transação e contém 0 XMR
Outro aspecto a ser destacado é que a criação do Bitcoin, a primeira criptomoeda, foi baseada em um protocolo que tenta proteger a identidade do participante usando endereços de pseudônimos e criptografados – combinações de letras e números geradas aleatoriamente.
Só que essa abordagem oferece privacidade limitada, pois tanto os endereços quanto as transações do bitcoin são registrados no blockchain, que funciona como um ledger (livro-razão) estando disponíveis para acesso público. Mesmo os endereços de pseudônimos não são totalmente privados. Algumas transações realizadas por um participante ao longo do tempo podem ser vinculadas ao mesmo endereço, permitindo que outras pessoas conheçam o histórico do proprietário do endereço e de sua identidade.
Outra vantagem da Monero sobre o bitcoin é a fungibilidade. Isso significa que duas unidades de uma moeda podem ser geradas mutuamente, sem diferença entre elas. Embora duas notas de US$ 1 tenham o mesmo valor, elas não são fungíveis, pois cada uma carrega um número de série exclusivo. Em contraste, duas barras de ouro de 100 gramas são fungíveis, pois ambas têm o mesmo valor e não possuem nenhuma característica distintiva. Usando essa analogia, um bitcoin é a nota de US$ 1, enquanto um Monero é uma barra de ouro.