Como a criptomoeda é um mercado que nunca dorme, o Bitcoin operou em queda no domingo (23), atingindo US$ 31.227 – mais de 50% abaixo do pico de meados de abril, quando valia US $ 64.829. Entre as causa do crash atual estão as preocupações ambientais com a mineração de bitcoin, levantadas pelo presidente-executivo da Tesla, o bilionário Elon Musk, e uma repressão da China ao setor.
A criptografia nº 1 do mundo se estabilizou no final da manhã da segunda-feira (24), sendo negociada acima de US $ 36.000. Em meio às incertezas do mercado no curto prazo, Michael O’Rourke, estrategista-chefe de mercado da JonesTrading, aponta que os ganhos “especulativos” do ouro na década de 1970 podem oferecer aos investidores de cripto uma visão do caminho futuro do bitcoin.
Essa comparação pode ser melhor entendida após alguns analistas identificarem que investidores têm retirado dinheiro de futuros e fundos de bitcoin e colocado mais em ouro, como mostrou uma análise do estrategista da J.P. Morgan Nikolaos Panigirtzoglou. Essa é uma grande mudança em relação aos dois trimestres anteriores.
A alta do Bitcoin, subindo 500% de outubro do ano passado ao pico deste abril, é “facilmente uma das corridas de alta mais impressionantes da história financeira”, disse O’Rourke em uma nota no domingo, acrescentando que a tendência foi impulsionada pela falta de confiança no governo federal dos EUA e suas novas práticas de gastos.
O caminho do preço do ouro na década de 1970 pode ser visto como um paralelo histórico, avalia, fornecendo um “mapa” para o caminho das criptomoedas. Ele lembra também que aquele período foi marcado pela  desconfiança no governo e de alta inflação – três ou quatro vezes maior que os níveis atuais. Até que, em 1971, o presidente Richard Nixon acabou com a taxa de câmbio fixa para o ouro de US$ 35 por onça (28,349 gramas).
Depois de não ter alterações bruscas durante quatro décadas, o ouro disparou e, em janeiro de 1980, atingiu US $ 850 a onça. “Posteriormente, a história provou que uma grande parte da movimentação do ouro na década de 1970 e início de 1980 foi simplesmente especulativa”, lembra O’Rourke.
De fato, o ouro despencou abaixo de US $ 300 por onça no final dos anos 1980. Não subiria para mais de US $ 850 até 2008, quando os investidores voltaram a investir no mercado de metais durante a crise financeira pelos mesmos motivos – novas impressões de dinheiro pelos bancos centrais e governos disfuncionais. O declínio de 45% da commodity desde o pico de 2011 até a baixa de 2016 abriu a porta para que o bitcoin assumisse o papel de “nova alternativa a governos e bancos centrais disfuncionais”, resume o analista.
Vale lembrar que Jon Biden, em menos de quatro meses no poder, liberou nada menos que US$ 6 trilhões em três pacotes destinados a estimular a economia americana. Isso fez o Fed, o banco central americano, mudar sua política e deve gerar a impressão de até 12 trilhões de dólares. Alguns efeitos já são sentidos na economia dos EUA, cuja inflação nos últimos 12 meses teve variação de 4,2% – a maior desde setembro de 2008.
O investidor Anthony “Pomp” Pompliano, destaca que a magnitude dos pacotes é absurda e pode trazer ótimos benefícios para o Bitcoin. “Só um desses pacotes de estímulos é de US$ 1,9 trilhão. O valor de mercado do Bitcoin é de US$ 1,010 trilhão. Eles (governo) criaram mais dólares do nada do que o valor de mercado total do Bitcoin” explicou.

Tempestade perfeita de positividade

A “novidade” do reengajamento do ouro com a dinâmica do mercado no ambiente dos anos 1970 criou uma “tempestade perfeita de positividade para o ativo”. Nos últimos anos, essa mesma percepção de novidade forneceu ao bitcoin um enredo semelhante para “os especuladores abraçarem em meio aos temores da pandemia” e estímulo fiscal e monetário dos governo americano, acrescentou Michael O’Rourke.
O estrategista de mercado da JonesTrading lembra também os comentários de Warren Buffett sobre o ouro quando ele estava no pico em 2011, alertando contra “ativos que nunca produzirão nada”, mas são comprados na esperança de que alguém pague mais por eles no futuro. Esse resumo “coincide quase perfeitamente com o que testemunhamos com o bitcoin nos últimos sete meses”, sintetiza.
“O ouro ainda tem alguns milênios de história como valor armazenado e as desvantagens ambientais do bitcoin podem ser grandes demais para serem superadas. As preocupações ESG [ambiental, social e de governança corporativa] reverteram a criptomoeda no momento em que a inflação temida está se materializando”, encerrou.