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Esta semana, o jornal The New York Post publicou uma reportagem sobre o novo perfil dos investidores, pertencentes à chamada “Geração Z” – os nascidos entre 1995 e 2010. Alguns do novos investidores que ficaram ricos recentemente com criptografia explica que os jovens estão usando cada vez mais redes sociais para se informar e considerar opções de investimento.

“Nossa geração está muito mais ligada em coisas como TikTok e os vídeos ‘For You” [página inicial do TikTok direcionada individualmente aos interesses do usuário] memes e conteúdo viral, mas até este ponto, não havia uma maneira de investir nisso financeiramente ”, disse Cooper Turley. Morador de Los Angeles, aos 26 anos. ele trabalha com estratégia de criptografia em um aplicativo de streaming e afirma que já ganhou milhões no mercado digital. “O que realmente empolga sobre a criptografia é que, pela primeira vez na história, podemos atribuir um valor financeiro ao capital social.”

Ele explica que a mídia social desempenha um papel importante nos investimentos, tanto para as pessoas que desejam investir, quanto para os criadores de conteúdo que as utilizam para orientar as decisões financeiras de terceiros. Threads do fórum Reddit, vídeos do YouTube e contas do Twitter acumulam centenas de milhares de seguidores em busca de dicas de criptografia.

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Há alguns anos, disse ele, o mercado de criptografia parecia “incerto”. Mas agora: “Independentemente de onde o preço vá nos próximos meses, este setor veio para ficar.” Turley está convencido de que os próximos gigantes corporativos – Apples e Googles do futuro- serão baseados em criptografia, com líderes mais jovens utilizando  novas maneiras de alcançar consumidores em potencial.

Criando uma geração de investidores

Se no Brasil multiplicam-se as críticas ao TikTok pelos vídeos de adolescentes fazendo coreografias “sensuais” ao som de música funk, em países como os Estados Unidos, já existem influenciadores digitais que conquistamam milhões de seguidores produzindo material sobre criptografia. Claro, como em toda rede social, há muitas informações imprecisas e golpes, mas é inegável que a plataforma está colaborando para formar uma nova geração de investidores. A conclusão é do respeitado jornal de finanças The Wall Street Journal, que analisou a tendência em reportagem publicada em 21 de maio de 2021.

Os vídeos curtos, de até 3 minutos, os TikTokers são capazes de traduzir conceitos difíceis de criptomoeda de uma maneira simples que seja atraente para a Geração Z. Esses influenciadores perceberam onde está seu público e capitalizaram com isso.

Responsáveis por novos projetos de criptomoeda estão investindo nessa linguagem dinâmica para atrair possíveis interessados. Assim como muita gente usa a plataformas de vídeos para compartilhar bobagens que serão  esquecidas assim que o próximo conteúdo terminar, há quem aposte no TikTok como uma possibilidade de ensinar jovens a ganhar dinheiro com criptografia e mudar sua vida.

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Atualmente, a hashtag #cryptocurrency (criptomoedas) tem mais de 1,5 bilhão de visualizações no aplicativo, indicando que existe uma busca real por esse tipo de conteúdo. No Brasil, o assunto ainda não é tão popular, com cerca de 80 milhões de menções.

Uma das muitas histórias de como a rede social que mais cresce no momento pode estar mudando o mercado cripto envolve o Dogecoin (DOGE) e o TikToker jazg97. Em 2 de julho de 2020 ele lançou um vídeo fazendo um dos populares desafios da rede, mas no seu caso não envolvia baldes de água.

“Vamos ficar Rico”, disse ele na publicação que sugeria que cada um dos 800 milhões de usuários ativos do TikTok comprasse US$ 25 dólares em DOGE. Segundo seus cálculos, na cotação da época, isso daria em torno de 10 mil moedas para cada. “Quando o preço atingir 1 dólar por DOGE, você terá feito US$ 10 mil dólares. Conte  para todo mundo que você conhece”.

O vídeo com o “desafio” em menos de uma semana teve mais de 63 mil curtidas e 5 mil comentários. Como é comum na plataforma, o vídeo com a mesma dica de “investimento” começou a ser copiado por outros criadores de conteúdo da plataforma, conforme mostrou na ocasião o site The Block, especializado em criptomoedas.

Coincidência ou não, alguns dias após os vídeos incentivando a compra da criptomoeda de meme começarem a ganhar força, a DOGE começou a subir, saindo dos US$ 0,0024 para US$ 0,0042, com um pico em US$ 0,0050. Claro, a ideia de jazg97 não teve a força de um tuíte de Elon Musk, o “pai do DOGE” e o ativo continuou longe do ambicionado US$ 1, mas deu indícios que o TikTok conseguiu mobilizar pessoas e gerou uma excelente movimentação de alta em pouco tempo.

Não é só nos Estados Unidos

Em 22 de março de 2020, um dia antes de o Reino Unido anunciar seu primeiro lockdown por cauda da Covid-19, Joel Davies juntou-se à TikTok, animado com o burburinho em torno da plataforma. Ele não sabia que isso lhe renderia dinheiro suficiente pra mudar sua vida.

Atualmente com 23 anos, Davies começou a se interessar por criptomoedas aos 16 anos, mas além de um pequeno investimento em bitcoin, essa “curiosidade” divida espaço em sua vida com os estudos de cinema e produção digital na Universidade de Bath Spa. Após sua formatura, em 2019, Davies voltou para a casa de seus pais em South Wales, acumulou economias com seu trabalho de marketing e, à noite, se conectava a um servidor Discord, uma plataforma popular entre gamers.

Passou a seguir Dennis Liu, 26, que produz vídeos no TikTok com o nome de VirtualBacon. “Quando encontrei o VirtualBacon no TikTok, ele me estimulou a investir e aprender mais sobre [criptomoeda]”, diz Davies. O estilo prático de Liu e a ênfase na pesquisa e análise se destacaram num espaço que Davies acreditava ser tomado por golpes e metas de preços fora da realidade.

Auxiliado pela comunidade de VirtualBacon no Discord e pelos vídeos de Liu no TikTok, Davies aprendeu os fundamentos do investimento em criptografia, incluindo como negociar em exchanges e criar uma carteira digital. Acabou adquirindo habilidades mais avançadas, como analisar tokenomics e avaliar os fundamentos de uma empresa.

Decidiu fazer seu primeiro grande investimento em criptografia no mês que a economia do Reino Unido mostrava ter se abalado com os efeitos da pandemia. Ao longo de um ano, Davies conta que transformou seu investimento inicial de 2.500 libras esterlinas em quase 100.000 libras esterlinas (de cerca de R$ 17.500 para  quase R$ 700.000).

“Quando comecei a fazer [vídeos] criptográficos no TikTok, ninguém os fazia”, diz Liu, que em 2014 entrou nesse universo minerando Dogecoin em seu dormitório na Universidade McGill. Em 2017, ele tinha algum dinheiro extra que queria investir em criptografia. “É um tipo de jogo arriscado, mas, de uma forma estranha, isso é mais justo para alguém que é novo – o público mais jovem”, diz ele.

Os vídeos TikTok mais populares de Liu são “análises de oportunidade”, diz ele, de grandes mudanças no preço de  bitcoin e ether, especialmente quando eles caem, e outros ativos criptográficos populares. “As pessoas no TikTok geralmente são investidores muito novos, então esse tipo de vídeo tem um bom desempenho”, diz ele. “Não é apenas análise, mas um pouco de garantia para acalmar suas mentes no mercado de criptografia volátil.” Falando muito rápido e tendo ao fundo uma tela verde que exibe o gráfico de uma moeda ou outras informações, o VirtualBacon descomplica muitos termos técnicos e consegue atrair milhões de visitas.

Outra história que mostra o poder do TikTok é a do token chamado $SCAM (abreviatura de “Simple Cool Automatic Money” ou Dinheiro automático simples e maneiro) como uma piada. Embora disponível apenas na Binance, ela atingiu uma capitalização de mercado de US$ 70 milhões uma hora após seu lançamento. Embora não tenha se sustentado no alto por muito tempo, até aqui não deu indícios de ser uma fraude, o que é uma ironia, já que scam, em inglês, é um termo para golpe ou fraude.

Os investidores mais novos são mais propensos a colocar seu dinheiro em investimentos mais arriscados, como criptomoeda, em parte por causa da emoção, novidade e prestígio social. Essa é a conclusão de um estudo encomendado pela Financial Conduct Authority (Autoridade de Conduta Financeira), um centro de análise do Reino Unido.

Muito do burburinho sobre criptomoedas, mostra o levantamento, é devido a influenciadores e histórias espalhadas nas redes sociais. Um círculo informal de entusiastas da criptografia recentemente migrou para o TikTok porque representa o maior potencial para expandir seu público, diz Liu. E o público que eles estão alcançando provavelmente afeta os jovens, de acordo com uma pesquisa da Pew Research Center, publicada em abril. Ela mostra que 48% dos adultos com menos de 30 anos dizem que usam o TikTok, em comparação com apenas 22% daqueles com idades entre 30 e 49 anos. em que os memes online são tratados como commodities financeiras e vice-versa, bem como esquemas de pum and dump (a prática fraudulenta do bombeamento e despejo, que infla artificialmente o preço de criptoativos) – também são frequentes, de acordo com alguns influenciadores na plataforma.

Criptomoeda com tema “Mandaloriano” lesou milhares de pessoas

Com mais de um milhão de seguidores, o tiktoker Matt Lorion afirma ter ficado milionário aos 17 anos. Mas em março o influenciador viu sua credibilidade abalada após indicar o token “Mando”, que tinha a temática da série de sucesso da Disney que se passa no universo de Star Wars.

Ele não disse se ganhou dinheiro para promovê-la, mas fez vídeos incentivando as pessoas a negociarem o  $MANDO PancakeSwap numa pré-venda que movimentou milhares de dólares. Poucos dias depois, os criadores fizeram o temido rugpull, fechando o site e lesando milhares de pessoas. Lorion disse que havia investido 10 mil dólares e pediu desculpas para quem acreditou nele.

O jovem alega ter sido enganado também, mas o golpe deixou muitas pessoas com raiva da “dica furada” e não pretendem mais colocar seu dinheiro em criptografia. Pouco tempo depois Lorion começou a promover outra moeda digital, chamada Elongate.

Porém dessa vez, ele afirma que sua equipe de gestão “conduziu verificações” e que ele está diretamente envolvido no projeto. Diferentemente de quando promoveu o Mando no início do ano, desta vez, ele recomendou que os potenciais investidores que ainda realizem suas pesquisas antes de investir. Conforme o CriptoPrime já mostrou anteriormente, a indicação de criptomoedas por influenciadores e celebridades não deveria ser o único elemento considerado antes de um investimento.